As baixas temperaturas do inverno costumam desencadear uma série de doenças, inclusive dermatológicas. Alergias, eczemas, psoríase e dermatite seborréica são algumas das afecções mais comuns nessa época do ano.
Por que isso ocorre? A oleosidade natural da pele é muito importante para proteger o corpo do frio, da penetração das bactérias, fungos, vírus, de poluentes do ar, do contato com alergenos como poeira, mofo e fibras de tecidos. No frio, além de menor sudorese e menor ativação das células que produzem o manto hidrolipídico da pele, temos o hábito de tomar banhos quentes e demorados, que diminuem ainda mais a proteção natural da pele, por isso ela fica mais seca e suscetível.
Na entrevista abaixo, a médica dermatologista Dra. Eliandre Costa Palermo (CRM-SP 78723), vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, esclarece sobre as principais doenças dermatológicas que se manifestam nesta época do ano e como tratá-las. Confira!
1. Quais são as doenças de pele mais comuns no inverno?
O clima frio e seco nesta época do ano favorece o aparecimento de alterações na pele, que a tornam sensível e vulnerável às doenças, como as alergias da pele (dermatites) e eczemas (pele irritada). Além disso, a pele seca pode causar incômodos como coceira que, quando agravada, pode levar ao aparecimento de eczema – um problema caracterizado por irritação na pele com vermelhidão. A pele pode ficar escamosa e, algumas vezes, com rachaduras ou pequenas bolhas. As mais comuns são:
Dermatite atópica (ou eczema atópico): alergia crônica, bastante comum em crianças, ocorre por uma deficiência de hidratação do organismo. Ela causa coceiras e até lesões mais sérias, que podem formar crostas e soltar secreções. Como medida preventiva, deve-se evitar banho quente e uso de buchas e sabonetes nas áreas afetadas. Usar sabonete hidratante de pH neutro somente nas áreas intima e muito hidratante após o banho.
Eczema: popularmente conhecida como “impinge”, pode ser causada por fungos ou alergias, também é agravada durante a temporada mais fria pela diminuição do manto de proteção da pele. Apesar de não ser uma doença grave, ela gera muita coceira e pode causar manchas brancas pelo corpo, com aparência desagradável. Deve-se evitar coçar as lesões e adotar os cuidados mencionados acima. Se não houver melhora com o uso do hidratante, deve-se procurar o dermatologista, pois será necessário um tratamento específico.
Psoríase: é caracterizada pela presença de placas avermelhadas com escamas grossas nos joelhos, cotovelos e no couro cabeludo. De causa genética, ela é uma doença crônica, mas que pode se agravar no inverno dependendo de alguns fatores ambientais, como o frio, banhos quentes, pouca hidratação e, principalmente pela falta de exposição ao sol. É preciso evitar as atitudes mencionadas anteriormente. A doença requer um tratamento específico.
2.No inverno, sempre se fala da importância de não tomar banhos muito longos (+ de 10 minutos), com água muito quente e sabonete em excesso, pois são fatores que aumentam o ressecamento da pele e coceira. Quais das doenças de pele estão relacionadas ou são favorecidas por esses hábitos nocivos à integridade da pele?
Alguns hábitos comuns do inverno, como tomar banhos muito quentes e duradouros, ressecam e desidratam a pele e prejudica a função que ela desempenha. A pele é responsável pela proteção química, por meio das secreções sudorípara e sebácea, e física contra agressões externas, controlar a eliminação de água do corpo, fornecer proteção imunológica por meio das células imunes, realizar a regulação térmica pela sudorese e a vasodilatação. Quando a pele está ressecada e desidratada, essas funções ficam comprometidas e o indivíduo mais propenso ao aparecimento de doenças, como a dermatite atópica, eczemas, dermatite de contato irritativa e outras.
3.No inverno, em função do uso de roupas mais fechadas e o uso de várias peças, a pele entra mais em contato com tecidos sintéticos que levam ao aparecimento de coceira ou irritações. Por que isso ocorre se a função desses tecidos é a de proteger a pele? Como evitar isso?
A melhor forma de impedir que isso aconteça, nos indivíduos alérgicos ou não, é evitar o contato direto na pele de roupas de lã ou tecidos sintéticos. O ideal é usar uma camiseta de algodão por baixo dessas roupas. Deve-se tomar cuidado ao usar produtos químicos como sabão em pó e amaciantes, pois podem provocar alergia.
4.Como a diminuição da umidade do ar, a temperatura ambiente mais baixa e ventos frios contribuem para o ressecamento da pele?
O clima mais seco e o vento frio favorecem a perda de umidade natural do corpo. O consumo de água também cai, o que faz com que a hidratação natural, produzida pelo próprio organismo, chegue em menor quantidade à superfície. Para completar, os banhos quentes removem a oleosidade natural da pele, que é responsável por regular seu mecanismo de hidratação.
5.Quem tem Psoríase pode ter a doença agravada nesse período do ano? Por quê?
A psoríase é uma doença inflamatória da pele de causa genética. Surgem placas avermelhadas em regiões do corpo como cotovelos, palma das mãos, joelhos e couro cabeludo. No inverno, as lesões podem ser intensificadas justamente pelo ressecamento da pele e falta de radiação ultravioleta que ajuda a controlar a doença.
6.Ando de carro e uso o ar quente. Isso pode influenciar no ressecamento da pele?
Sim, pode. Mas, independentemente do ambiente e da temperatura, é necessário manter a pele sempre hidratada para amenizar o ressecamento causado pelas agressões externas.
7.Durante o inverno, como evitar o desenvolvimento da urticária e micoses?
A micose é causada por fungos que encontram no calor úmido o ambiente ideal para seu desenvolvimento. A higiene é o princípio fundamental tanto para prevenção como para cura das micoses. Com relação à urticária, o melhor tratamento é descobrir sua causa e evitar o contato com o agente alergênico. Antialérgicos deverão ser prescritos pelo dermatologista.
8.Quais os principais ingredientes que devem estar presentes nos cremes e loções hidratantes indicados para o corpo e rosto?
Os ativos hidratantes mais comumente utilizados são a uréia e os alfa-hidroxi-ácidos (lático, mandélico, glicólico) em concentrações e veículos diversos, dependendo da área no qual o produto será utilizado, como face e mãos. Em algumas formulações pode associar substâncias que auxiliam na esfoliação da pele como o ácido salicílico, em áreas como os pés. Outro produto que não pode faltar é o protetor solar, que também é necessário no inverno.
9.Dicas de cuidados com a pele durante o inverno.
* Não tomar banho muito quente e prolongado;
* Pessoas de pele muito seca devem evitar o uso de sabonetes nas pernas e braços, usando-o somente nas áreas íntimas, espalhando a espuma do sabonete no restante da pele;
* Não usar buchas vegetais, esponjas, cremes ou sabonetes de banho com grânulos (com exceção das áreas de pele mais engrossada, como cotovelos, joelhos e pés);
* Não se secar com toalhas ásperas, esfregando-se para não remover ainda mais a camada de proteção natural;
* Tomar banho rápido e morno é saudável e ecologicamente correto, com sabonetes neutros e hidratantes, pois são os que menos ressecam a pele; *
* Utilizar esfoliantes no corpo, no máximo, de uma a duas vezes por mês, com grânulos finos, pois do contrário, a pele perde o revestimento natural por meio desse tipo de “agressão” e torna-se sem brilho e seca, fácil de manchar e se contaminar com vírus, bactérias e fungos;
* Secar-se com toalhas felpudas, principalmente nas áreas de dobras do corpo (dedos, pés, virilhas e axilas) para evitar qualquer micose oportunista;
* Aplicar um bom hidratante corporal com produtos à base de uréia, acido lático, acido hialurônico, óleos vegetais, vitaminas e anti-oxidantes.
Os procedimentos mencionados acima devem ser mantidos por todas as faixas etárias e, com exceção das crianças pequenas que tendem a ter a pele menos ressecada e precisam de hidratante especifico para elas. Um adulto deve aplicar hidratante, pelo menos, duas vezes ao dia. “Apesar de todas as dicas, ainda é imprescindível o uso de protetor solar durante o inverno. O sol, ainda que pareça mais fraco, continua emitindo radiações ultravioletas e, portanto, danificando a pele”, finaliza Dra. Eliandre.
Fonte: Prestige Assessoria de Comunicação e Marketing