Em debates sobre os rumos da educação, não é difícil ouvir o argumento de que “quem faz a escola é o aluno”. A frase feita guarda uma armadilha, ao tirar a responsabilidade do educador na formação dos jovens. É bem verdade que de nada adianta um professor extremamente culto e didático se sentado na carteira há um aluno apático. O inverso, porém, é mais perigoso. A sede de conhecimentos de um estudante pode ser inibida, se defrontada com mestres pouco comprometidos, gerando graves deficiências no aprendizado.
Não deixa de ser um alívio, portanto, observar que Fernando Haddad e Paulo Renato Souza, respectivamente, ministro e secretário paulista da Educação, assumem a incumbência de melhorar a qualidade do ensino. Em um debate promovido pelo jornal o Estado de S.Paulo, ambos concordaram que a formação do professor deve sofrer mudanças radicais para aprimorar a preparação dos jovens para o mundo.
O governo paulista pode estar alguns passos à frente na solução do problema. Além de oferecer um curso específico a todos os professores aprovados em concursos públicos, o secretário Paulo Renato reconhece: “Em outros países, onde temos resultados melhores que os nossos em matéria de aprendizagem dos alunos, a formação de professores está muito centrada na prática, em estágio nas escolas.” A visão do ex-ministro merece destaque porque, ao se discutir a carreira dos educadores, se olha sempre para frente, questionando remuneração e aposentadoria, mas pouco se atenta para os primeiros passos dessa caminhada.
O magistério, como qualquer outra profissão, precisa de uma formação que uma teoria e prática. É de se questionar, entretanto, quantos estagiários de licenciatura ou áreas voltadas à educação estão se capacitando para o exercício da estratégica atividade de educar as novas gerações, pois são raras as instituições de ensino que lhes abrem as portas. O próprio CIEE é um case de sucesso nessa seara: há 12 anos, desenvolve um programa de alfabetização e suplência gratuita de adultos, cujas aulas são proferidas por estagiários capacitados e acompanhados por pedagogos da entidade. Em todo esse tempo, mais de 1,4 mil estagiários passaram pelos núcleos do CIEE e de empresas que se tornaram parceiras dessa ação, que já beneficiou 52 mil pessoas.
* O artigo foi desenvolvido por Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE, da Academia Paulista de História – APH e diretor da Fiesp.